No centro de uma disputa comercial bilionária com os Estados Unidos, a China vem se tornando um ímã para empresários brasileiros em busca de lições sobre inovação, tecnologia e empreendedorismo. Não passa semana sem que uma missão com presidentes de grandes empresas, executivos e donos de start-ups desembarque em cidades como Pequim, Xangai ou Hangzhou.
O objetivo é entender como marcas como Tencent, Alibaba, Didi, Xiaomi
e Huawei, empresas que sequer existiam há apenas 20 anos, tornaram-se gigantes em seus setores e que estratégias o capitalismo ocidental pode tirar desses cases de sucesso.
Há um processo de inovação muito acelerado, que fez o país virar referência em setores como varejo on-line, meios de pagamento, os chamados empréstimos peer to peer (feitos entre pessoas físicas através de plataforma digital) e internet das coisas (IoT).
—As novidades saem das empresas e chegam muito rapidamente ao mercado, de uma forma livre, sem regulação. Isso acelera os processos, e só depois o governo vai regular — conta Pedro Englert, presidente executivo da StartSe, empresa de educação executiva que já levou 700 pessoas à China desde 2018 e tem mais 12 missões programadas este ano.
Os chineses criaram um ecossistema digital em que a tecnologia é assimilada imediatamente no cotidiano de seus habitantes, considerando que 802 milhões de pessoas têm acesso à internet. No comércio, por exemplo, o pagamento é feito com celular. O dinheiro físico já não é aceito em muitos lugares.
Aplicativos como o WeChat, da Tencent, permitem que os chineses comprem ingressos para o cinema, marquem consulta no médico, peçam comida e agendem viagens.
—Muitas das coisas que são o futuro já estão operacionais na China, como esses super-aplicativos —diz Marcelo Toledo, presidente executivo da GS&MD, consultoria especializada em varejo, que já levou 70 pessoas ao país este ano e tem novo grupo programado para novembro.
Na cidade de Hangzhou, com apoio do governo, foi criada a Dream Town (Cidade do Sonho), um celeiro de quase 1.500 start-ups, onde há US$ 70 milhões em recursos públicos para investimento.
—O país quer abandonar a imagem de que é uma grande fábrica para produzir cópias baratas de produtos —diz Englert, da StartSe.
O governo também investe em educação, assim como fizeram o Japão e a Coreia do Sul. A China já está formando 4,7 milhões de engenheiros por ano, enquanto a Índia forma 2,5 milhões e os EUA, 400 mil.
—A mão de obra chinesa já está sendo treinada para as profissões do futuro —diz Toledo, da GS&MD
Fonte: O Globo